BIOGRAFIA DO
PATRONO JOAQUIM AUGUSTO DA COSTA MARQUES
( BACHAREL EM DIREITO
)
“Devotado
patriota, distinto filho da terra matogrossense”, que não poupou esforços, nem
mediu sacrifícios para enobrecê-la “. (O Debate, junho de 1912).
Eminente cultor do Direito, industrial de vasto
descortino, hábil condutor de homens, parlamentar de elite e administrador
atilado, foi o Dr. Joaquim Augusto da Costa Marques” uma das figuras de maior
projeção no cenário político-social de Mato Grosso, em cujo meio se impôs pela
sua alta capacidade de trabalho e, mais do que isso, pelas excelsas virtudes
cívicas que exortavam a sua personalidade e pelo grande amor que voltou à terra
que o viu nascer.
Nasceu Joaquim Augusto da Costa
Marques, consoante informação de sua viúva dona Adiles Prado da Costa Marques,
na vila, hoje cidade de Poconé, sede do município do mesmo nome, aos 7 de junho de l861 e
faleceu na cidade Cáceres, onde era domiciliado, aos 02 de dezembro de 1939.
Foram seus pais o tenente-coronel da
Guarda Nacional Salvador da Costa Marques, abastado fazendeiro e prestigioso
chefe político no antigo regime, e de dona Augusta Nunes Rondo Marques, também
de família de fazendeiros de grandes recursos.
Concluído os seus estudos primários
na vila Poconé, veio para Cuiabá, com a idade de 12 anos, em 1872, matriculando-se
no antigo Seminário da Conceição, onde iniciara o seu curso de Humanidades, que
interrompera em 1875, por três anos, passando esse período no seio da família,
entregue aos serviços da fazenda de seus pais.
Demonstrando sempre grande desejo de
prosseguir nos seus estudos, voltou a Cuiabá, onde passou a freqüentar o
Externato que, nessa época, se fundara sob a direção dos Drs. Manuel Esperidião
da Costa Marques ( seu irmão mais velho ), João Carlos Muniz e Antônio Correia
da Costa.
Ao findar o ano de 1882, seguiu o
esperançoso jovem poconeano para o Rio de Janeiro, onde completou com
brilhantismo os seus preparatórios, rumando, em seguida, para São Paulo, a
Atenas brasileira daqueles tempos, ingressando na afamada Faculdade de Direito,
onde recebera a áurea em
Ciências Jurídicas e Sociais, em 1891.
Tendo sempre a atenção voltada para
a terra natal, a ela regressara o jovem Bacharel, fixando residência na cidade
de São Luiz de Cáceres, abrindo nesta comarca o seu escritório de advocacia e
constituindo-se um propugnador entusiasta e devotado da prosperidade daquele
município, a que prestou os mais assinalados serviços.
Dotado de grande energia e de
admirável enfibratura moral, o Dr.Joaquim Augusto da Costa Marques sempre se
fizera respeitar, conservando o seu prestígio de chefe, sabia querer e sabia
mandar.
De notável austeridade de caráter
desse eminente líder da política mato-grossense, fala, com eloquência, o
seguinte episódio que guardei na memória, tão profundamente ele me calara no
espírito, testemunha que fui do mesmo.
Transcorria o ano de 1912, ou 1913,
se bem me recordo. Achava-se o Dr. Costa Marques no meado de seu governo. Por
essa época, chegou a Cuiabá o notável orador chileno Dr. Juan José Júlio Y
Elizalde, que andava a realizar conferências públicas sobre a doutrina do
grande Augusto Comte. Por intermédio da Maçonaria a quem viera recomendado o
ex-sacerdote católico, conseguiu ele do Prefeito Municipal de então, Coronel
Manuel Escolástico Verginio, permissão para realizar as suas conferências no
coreto da Praça Alencastro, em frente ao Palácio do Governo. Abespinhou-se o
Clero e a Liga Católica cuiabana e, logo após as primeiras conferências, em que
vários populares exaltados procuraram vaiá-lo publicamente, organizaram os seus
elementos representativos uma marcha à Residência do Governador, tendo à frente
as figuras respeitáveis do Arcebispo Metropolitano D.Carlos Luis d’Amour e do
seu Bispo Auxiliar D.Francisco de Aquino Correia, Desembargador João Carlos
Pereira Leite, Dr.Magalhães, Dr.Francisco Muniz, Juiz de Direito, seguidos da
grande massa popular dirigiram-se à residência governamental, por volta de 15
horas e ali, após vários discursos inflamados, solicitaram ao Presidente Costa
Marques o cancelamento daquela permissão municipal, que constituía uma afronta
à religião católica, professada pela maioria do povo brasileiro. Supôs muita
gente que a presença daqueles vultos eminentes à frente daquele préstito
pudesse constituir um osso que iria atravessar na garganta do preclaro
Presidente do Estado. E a massa popular esperava ansiosa a sua resposta.
Tomando a palavra o Presidente Costa Marques, com a serenidade que lhe era
peculiar, proferiram as seguintes palavras, poucas, as incisivas, reveladoras
de seu caráter: “Como cidadão, como Bacharel em Direito e, sobretudo como
Presidente do Estado, não pode revogar um ato praticado pelo Sr. Prefeito
Municipal, com amparo num dispositivo constitucional que a ninguém é dado
desconhecer. Vendo, porém, diante de mim figuras respeitáveis, merecedoras da
minha atenção, entre os representantes do Clero e da Liga católica, eu os
aconselho, como amigo, a que defendam também os seus princípios religiosos,
realizando suas conferências, que terão o amparo e a proteção do meu governo”.
Homem de fino trato e de atitudes
nobres era o Dr.Joaquim Augusto da Costa Marques, um perfeito gentleman que cativava a todos que com
ele tivessem a felicidade de privar.
Filiando-se ao antigo partido
nacional, mais tarde democrata, cerrou fileiras ao lado do Governo de então,
participando ativamente na defesa do mesmo, por ocasião do movimento
revolucionário de 1892.
Em 1899, grande divergência política
veio cindir o partido republicano. Foi nessa época que o Dr.Joaquim Augusto da
Costa Marques, chefe preeminente do partido democrata, acompanhado de outros
prestigiosos companheiros, colocou-se ao lado do líder revolucionário Coronel
Generoso Ponce, passando a fazer parte da facção política chefiada por este.
A sua nunca desmentida lealdade
política, assim como os relevantes serviços prestados à agremiação partidária a
que pertencia, granjeou-lhe tal prestígio e confiança dos seus
correligionários, que foi por estes aclamado chefe do partido republicano no
município de São Luis de Cáceres, onde militava, posto em que se conduzira com
notória acuidade de visão e tino político.
Sempre solidário com o povo de sua
terra nas suas justas e memoráveis reivindicações, não hesitou em participar do
movimento revolucionário de 1906, tendo comandado uma das brigadas de que se
compunha o Exército Libertador que pôs cerco à capital mato-grossense, fazendo
ruir por terra o despotismo do Coronel Antônio Paes de Barros.
Membro dos mais conspícuos da
representação de Mato Grosso no Congresso Nacional, a figura do Deputado Costa
Marques se impunha pelo respeito que inspiravam as suas atitudes e pelo
acatamento com que eram recebidas as suas opiniões sempre sensatas e
equilibradas. Tantos e tão valiosos serviços prestara ao Estado e à Nação na
defesa de seus interesses, que para ele, desde logo, se voltara a atenção dos
seus conterrâneos, candidatando-se à Presidência do Estado no período de 1911 a 1915, em sucessão ao
Coronel Pedro Celestino Correia da Costa.
Assim como o parlamentar, o
Presidente não desmereceu da confiança do povo que o elegeu. A sua passagem
pela alta administração do Estado assinalou-se por uma brilhante seqüência de
realizações reveladoras do alto senso das responsabilidades que assumira e do
perfeito conhecimento dos grandes problemas do seu Estado. Entre essas realizações,
todas tendentes a incrementar o progresso material e cultural da sua terra,
merece especial menção a que levou a efeito nos domínios da Instrução Pública,
em que procurou seguir a traça do seu antecessor, criando novos grupos
escolares como o de Corumbá, o de Cáceres, o de Rosário Oeste e o de Poconé,
contratando em São Paulo
professores abalizados para melhorar o nível de ensino em Mato Grosso.
Como complemento indispensável e
poderoso auxiliar do ensino popular, criou e instalou a Biblioteca Pública do
Estado, obra da mais alta relevância político-social, levada a efeito no
patriótico propósito de incrementar o desenvolvimento cultural do Estado.
Conhecedor das falhas e imperfeições
existentes no aparelho judiciário do Estado, foi um dos seus primeiros cuidados
corrigir essas lacunas, dotando o Poder Judiciário de nova organização, mais
consentânea com o desenvolvimento do Estado e de maior eficiência para a
distribuição da justiça.
Não deixaram de merecer carinhosa
atenção do seu Governo as deficiências da nossa agricultura e da indústria
pastoril. Possuidor de vastos conhecimentos de agricultura e pecuária de que
era grande entusiasta, empenhou-se vivamente o seu Governo em dotar o Estado de
um Aprendizado Agrícola e de um campo de demonstração para a difusão do ensino
agrícola e demonstração prática das vantagens da mecanização da cultura. Não
impressionava bem ao seu espírito adiantado, o abandono em que jaziam as nossas
terras em contraste com a sua fertilidade, assim como a falta de amparo dos
Poderes Públicos à iniciativa particular no que se refere ao aproveitamento dos
nossos campos de maneira mais racional e econômica com o desenvolvimento dos
nossos rebanhos, o apuro das raças e o aperfeiçoamento dos seus métodos
antiquados.
Com essa orientação criou o Campo de
Demonstração e Posto Zootécnico de Cuiabá, à margem direita do rio Cuiabá,
iniciativa patriótica que as comoções políticas que abalaram a vida do Estado
em 1916, deixaram perecer.
Dr.
Joaquim Augusto da Costa Marques foi um dos fundadores da Sociedade Nacional de
Agricultura, que relevantes serviços tem prestado ao nosso País.
Não foram essas, porém, as únicas
benemerências do seu Governo. Elas se manifestaram ainda nos setores da Viação
e das Obras Públicas. Numerosas estradas foram abertas no seu Governo, ligando
os mais distantes núcleos da população rural e facilitando o escoamento dos
produtos da sua escassa lavoura. A falta de conservação, porém, baldou tão
generosos esforços.
A Santa Casa da Misericórdia de
Cuiabá ficou a dever-lhe grandes melhoramentos nas suas instalações, que
tornaram o seu Governo merecedor da gratidão desse pio estabelecimento.
Terminado o seu Governo, foi
novamente o Dr. Joaquim Augusto da Costa Marques reconduzido à Câmara Federal,
recolhendo-se, ao término do seu mandato, ao seu estabelecimento industrial em São Luiz de Cáceres, onde
falecera.
Serviu à Pátria e à terra natal com
probidade e carinho. Nobres qualidades o recomendam à consagração da
posteridade. (Do Livro: GALERIA DOS VARÕES ILUSTRES DE MATO GROSSO - NILO
PÓVOAS)
Para um pouco mais de conhecimento
sobre o nosso patrono, acrescentamos os dados da reportagem publicada pela
Revista VEJA de 2 de junho de 1999.
“Os Costa Marques são um exemplo de
como as famílias pantaneiras foram se reproduzindo e suas fazendas ficando
pequenas e inviáveis economicamente. Joaquim Augusto da Costa Marques, o
patriarca da família, foi um dos pioneiros da ocupação do Pantanal na região de
Cáceres. Foi também governador do Estado de Mato Grosso no começo do século.
Sua propriedade, a Fazenda Larga,
era um latifúndio de proporções colossais. Pela descrição dos documentos da
época, seus limites eram: ao sul, o Rio Paraguai, a leste e a oeste, duas
fazendas vizinhas, e a norte, “até onde não se oferecer resistência”. Ou seja,
era tão grande que, ao norte, entrava pelo sertão de Mato Grosso até onde o
fazendeiro conseguisse ocupar. Teoricamente, poderia ir até o Oiapoque, se não
encontrasse nenhuma tribo indígena feroz que lhe barrasse a expansão. Ao todo,
Costa Marques, conseguiu ocupar 120.000 hectares -
quase quatro vezes a área do município de Belo Horizonte.
Joaquim Augusto teve sete filhos. Na
divisão da fazenda, cada um ficou com 17.000 hectares –
tamanho de 100 parques do Ibirapuera (
SP ). Na geração seguinte, esses sete Costa Marques tiveram no total trinta
filhos, que herdaram terras equivalentes a três vezes a área ocupada pelo
Aeroporto de Guarulhos, em
São Paulo.
Na atual geração, a terceira da
linhagem Costa Marques no Pantanal, já são mais de 100 herdeiros. Se cada um
ficasse com um pedaço da propriedade original, teria direito a uma fazendola de
apenas 1.000 hectares
– menos de três vezes o tamanho do Central Park, em Nova York. Se a
família continuasse a crescer a crescer nesse ritmo, dentro de mais quatro
gerações cada herdeiro teria direito a apenas cinco campos de futebol.
A divisão, evidentemente, não
aconteceu nessa proporção porque nem todos os Costa Marques ficaram com suas
terras. Muitos venderam sua parte para outros herdeiros, que hoje acumulam
áreas maiores do que teriam direito por herança. É o caso de Carlos Costa
Marques, filho do patriarca, que comprou parte das terras dos irmãos. Um pedaço
dessa área pertence hoje a sua filha, Márcia Costa Marques, e o marido dela, Pedro.
É uma fazenda moderna, de 2.500 hectares (pouco mais de dois centésimos
do latifúndio original), situada na borda do Pantanal. “A pecuária garante a
nossa sobrevivência”, diz Márcia, mas nem se compara à época de ouro das
fazendas pantaneiras. (páginas 90 e 91)
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